terça-feira, 10 de novembro de 2015

Anarquismo - uma conclusão lógica do ateísmo



Nos dias de hoje, ser ateu é algo respeitado e aceite no Ocidente. Pode causar algum incómodo entre membros de família e amigos, mas muito raramente um grave conflito físico ou mental entre conhecidos. No entanto, a grande maioria do ateus (tal e qual como a grande maioria da humanidade) não reconhecem ou simplesmente ignoram o facto de que estes são os escravos de uma Igreja que é bem mais poderosa e mais eficiente do qualquer outra religião organizada que alguma vez existiu: o Estado.

Num episódio da mini-série francesa do ano de 2002 sobre a vida de Napoleão Bonaparte, o mesmo numa conversa com o Papa (antes de este simbolicamente aprovar da coroação de Napoleão como Imperador da França)  diz ao outro que "Deus" era simplesmente uma teoria, enquanto a religião era uma "certeza": no mundo controlado por aquilo que era assustadoramente real - uma classe sacerdotal que intimava as pessoas a lhe obedecerem como deviam viverem a sua vida, com a condenação de "irem para o Inferno" ou de irem para a prisão por não obedecerem "a lei" -, "Deus" era irrelevante, pois as pessoas podiam viver sem Deus, mas "não podiam viver sem religião." (1)

Tal e qual como Larken Rose argumenta através do livro «The Most Dangerous Superstition», a superstição que é a  fé na associação de criminosos chamada de Estado (na língua mãe do autor, o termo usado é «government») é uma igual superstição em comparação com a fé nas outras religiões existentes. Não há diferença: acreditar que todos os indivíduos que vivem sob o jugo da "República Portuguesa" vivem dentro do território controlado por esta associação devido ao chamado "contrato social", que nunca existiu e que não foi assinado por ninguém para aceitarem viver sob o jugo dessa mesma entidade, é tão supersticioso como acreditar num senhor imortal, que é barbudo, usa uma toga e que vive no céu, sentado num trono dourado, vivendo juntamente com as almas daqueles que sempre acreditaram "nele"(quando a existência deste suposto "reino" nunca foi provada).

A resposta do "estateu" (2) que considera que o meu argumento provocatório e que tem muita fé no Estado é a de que o Estado é real e não pode ser comparado ao não-existente "Deus" ou "deuses", e de que apesar de ser verdade que muitos tipos de dominação estatal são uma monstruosidade desumana, a existência do "Estado democrático" comprova que o Estado pode ser  uma identidade benéfica, em comparação ao vários males originários da religião (as Cruzadas, Jihads, e outras guerras religiosas, etc.).

No entanto, quando algum cristão acusa o ateísmo de ser culpado pelos milhões de mortos que resultaram do domínio dos regimes abertamente ateus da URSS ou da China maoista,o ateu irá responder - e bem - de que estes regimes não eram ateus porque os seus líderes - nestes casos, Estaline e Mao Zaedong - eram religiosamente adorados como "deuses na terra". No entanto, o mesmo não se aplica ao "Estado democrático"? Como? (Pretendo no futuro escrever sobre as origens religiosas do Estado)


O fenómeno "estateu" é irracional e é um exemplo de dissonância cognitiva. A maior existência de ateus do que anarquistas é o resultado de uma sociedade onde a grande maioria da população existente foi forçada a ir para campos de educação do Estado (as tais "eskolas públikas") durante a fase infantil e juvenil das suas vidas, sendo que a manutenção destes campos são financiados por impostos, que de acordo com a natureza do Estado, são provenientes do bens retirados a pessoas inocentes, sob a ameaça da violência. Uma parte desta população irão se tornar em ateus, mas devido à educação que receberam nestes campos de educação, onde lhes foi ensinada a obediência à "autoridade", ao Estado, "à nação", à "República", etc, anarquistas serão uma raridade entre estes.

Anarquismo é uma conclusão lógica de ateísmo consistente e de aceitar a realidade pelo o que ela é. A recusa da "autoridade" que se aplica ao divino também se deve aplicar à "autoridade real" das entidades geo-políticas: porque a "autoridade real" deixa de existir, quando todos nós deixarmos de ter fé nela.


(1)"We can do withouth God, but not withouth religion.(http://www.imdb.com/title/tt0253839/quotes)

(2) "estateu" - estrangeirismo originário da palavra inglesa "statheist" (http://www.urbandictionary.com/define.php?term=Statheist)